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CONCLUSÕES
Os portugueses têm uma concepção de democracia
que vai bastante para além de "eleições livres e
justas". Apesar deste aspecto ser também central, o
conceito de "democracia" para os portugueses
incorpora outros aspectos que vão para além da
competição eleitoral. Por um lado, a igualdade
perante a lei e um funcionamento dos sistema político
que permita castigar maus governos e obrigar estes
últimos a informarem os cidadãos. Por outro lado, é
também uma concepção que valoriza a justiça social,
a atingir através de políticas concretas que reduzam a
desigualdade e combatam a pobreza. Os portugueses
não estão sozinhos deste ponto de vista, mesmo entre
as democracias avançadas do continente europeu.
Contudo, os dados sugerem que a valorização da
justiça social como elemento indissociável do
conceito de "democracia" parece ser especialmente
intensa nos países com maiores desigualdades de
rendimentos, dos quais Portugal claramente faz parte.
A esta luz, o declínio da satisfação com o
funcionamento da democracia a que se assiste em
Portugal torna-se compreensível, especialmente
tendo em conta como a degradação das condições
sociais e económicas nos últimos anos.
Relativamente à questão da responsividade e
inclusividade da governação foram contrastados
dados recolhidos entre classe política e cidadãos
portugueses. Estas comparações servem para
iluminar divergências que podem ser causa e
consequência de algum distanciamento entre
eleitores e eleitos. Verificámos que existe uma
diferença significativa entre classe política e
cidadãos quanto à importância de o governo alterar
as políticas consoante a vontade da maioria sendo
que a classe política valoriza mais do que os
cidadãos a capacidade do governo em manter o
rumo. No que concerne a inclusividade, também
há diferenças significativas entre estes grupos: na
opinião da maior parte da classe política, a
existência da governos monopartidários é vista
como uma componente importante para a
democracia enquanto tal. Já quanto aos correlatos
da responsividade, mostrámos como está
associada - tanto pelos cidadãos como pela classe
política - à defesa de valores de diminuição da
pobreza e de diminuição de desigualdades nos
rendimentos. Além disso, a responsividade
correlaciona de forma negativa e significativa com
a satisfação com o estado actual da economia em
Portugal. Estes dados deverão ser lidos tendo em
consideração que no actual contexto político o
governo nacional está menos disponivel para
alterar as suas políticas, tendo em conta o
condicionamento externo a que tem estado sujeito
no âmbito do programa de ajustamento
económico.
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