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“DEMOCRACIA”: O QUE SIGNIFICA,

Uma das questões mais frequentemente colocadas nos grandes projetos comparativos

sobre atitudes políticas e sociais em todo o mundo diz respeito ao apoio concedido à

Democracia enquanto regime. O diagnóstico é claro: “a democracia tornou-se

virtualmente o único modelo político com atratividade global, seja qual for a cultura”

(Inglehart and Norris 2003: 70). Ou ainda: “a democracia enraizou-se ou foi pelo

menos abraçada por todos os grandes grupos culturais, não apenas pelas sociedades do

Ocidente com tradições protestantes (…). As pessoas em todo o mundo dizem que

preferem a democracia ao autoritarismo” (Diamond 2013).

De facto assim é, quando olhamos para os resultados destes estudos. Mas quando

respondem que preferem a “Democracia”, o que querem os cidadãos dizer com isso? O

que significa “Democracia” para eles? A que elementos deste conceito plurifacetado

atribuem maior e menor importância? “Democracia” significa eleições e competição

política? Direitos e liberdades? Ou justiça social e redistribuição de rendimento? Ou

ainda a direta participação dos cidadãos nas decisões políticas através de referendos e

outros mecanismos?

Se não soubermos o que significa “Democracia” para os cidadãos, independentemente

do que ela possa significar num dicionário ou num manual de Filosofia Política, teremos

dificuldade em compreender os aparentes sinais de apoio fundamental ao regime que a

investigação existente descreve. E teremos ainda mais dificuldade em compreender a

crescente insatisfação com o seu funcionamento, aspecto diferente do apoio ao regime,

mas em relação ao qual há também sinais claros. Segundo dados do Eurobarómetro, essa

insatisfação atinge hoje em Portugal os níveis mais fortes desde os anos 80, ou seja,

desde que existem inquéritos conduzidos regularmente sobre esta matéria. Também os

dados do

European Social Survey

(ESS) revelam, desde o seu início em 2002,

insatisfação dos portugueses a este respeito. “Insatisfação” com quê? Quais os pontos

“críticos” do funcionamento da democracia em Portugal e noutros países? O que nos

dizem os dados do módulo sobre “Concepções e avaliações da democracia” do ESS 6

(2012/2013) sobre o significado e avaliação da democracia na Europa hoje em dia?

Uma parte do módulo procurava medir a importância para os inquiridos, numa escala de

0 (nada importante para a democracia em geral) a 10 (extremamente importante para a

democracia em geral), de uma série de aspectos, reunidos em quatro grandes grupos

conceptuais:

direitos e liberdades

(“tribunais que tratam todos os cidadãos da mesma

forma”, “direitos das minorias”, “liberdade e qualidade dos meios de comunicação”);

eleições

(“livres e justas”, “fornecendo alternativas claras”, “discussão política antes

das eleições”, “castigo eleitoral a maus governos”, “direitos das oposições”);

controlo

popular

(“capacidade de decidir em referendos”, “governos que explicam as suas

decisões aos eleitores”); e

justiça social

(“governos que protegem os cidadãos da

pobreza” e que “tomam medidas para reduzir desigualdades”). De seguida, era pedido a

cada inquirido que avaliasse o desempenho do seu próprio país de cada um destes pontos

de vista.

COMO É AVALIADA

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